A independência do Brasil, enquanto processo histórico, desenhou-se
muito tempo antes do príncipe regente Dom Pedro I proclamar o fim dos
nossos laços coloniais às margens do rio Ipiranga. De fato, para
entendermos como o Brasil se tornou uma nação independente, devemos
perceber como as transformações políticas, econômicas e sociais
inauguradas com a chegada da família da Corte Lusitana ao país abriram
espaço para a possibilidade da independência.
A chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil foi episódio de grande
importância para que possamos iniciar as justificativas da nossa
independência. Ao pisar em solo brasileiro, Dom João VI tratou de
cumprir os acordos firmados com a Inglaterra, que se comprometera em
defender Portugal das tropas de Napoleão e escoltar a Corte Portuguesa
ao litoral brasileiro. Por isso, mesmo antes de chegar à capital da
colônia, o rei português realizou a abertura dos portos brasileiros às
demais nações do mundo.
Do ponto de vista econômico, essa medida pode ser vista como um primeiro
“grito de independência”, onde a colônia brasileira não mais estaria
atrelada ao monopólio comercial imposto pelo antigo pacto colonial. Com
tal medida, os grandes produtores agrícolas e comerciantes nacionais
puderam avolumar os seus negócios e viver um tempo de prosperidade
material nunca antes experimentado em toda história colonial. A
liberdade já era sentida no bolso de nossas elites.
Para fora do campo da economia, podemos salientar como a reforma
urbanística feita por Dom João VI promoveu um embelezamento do Rio de
Janeiro até então nunca antes vivida na capital da colônia, que deixou
de ser uma simples zona de exploração para ser elevada à categoria de
Reino Unido de Portugal e Algarves. Se a medida prestigiou os novos
súditos tupiniquins, logo despertou a insatisfação dos portugueses que
foram deixados à mercê da administração de Lorde Protetor do exército
inglês.
Essas medidas, tomadas até o ano de 1815, alimentaram um movimento de
mudanças por parte das elites lusitanas, que se viam abandonadas por sua
antiga autoridade política. Foi nesse contexto que uma revolução
constitucionalista tomou conta dos quadros políticos portugueses em
agosto de 1820. A Revolução Liberal do Porto tinha como objetivo
reestruturar a soberania política portuguesa por meio de uma reforma
liberal que limitaria os poderes do rei e reconduziria o Brasil à
condição de colônia.
Os revolucionários lusitanos formaram uma espécie de Assembleia Nacional
que ganhou o nome de “Cortes”. Nas Cortes, as principais figuras
políticas lusitanas exigiam que o rei Dom João VI retornasse à terra
natal para que legitimasse as transformações políticas em andamento.
Temendo perder sua autoridade real, D. João saiu do Brasil em 1821 e
nomeou seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil.
A medida ainda foi acompanhada pelo rombo dos cofres brasileiros, o que
deixou a nação em péssimas condições financeiras. Em meio às
conturbações políticas que se viam contrárias às intenções políticas dos
lusitanos, Dom Pedro I tratou de tomar medidas em favor da população
tupiniquim. Entre suas primeiras medidas, o príncipe regente baixou os
impostos e equiparou as autoridades militares nacionais às lusitanas.
Naturalmente, tais ações desagradaram bastante as Cortes de Portugal.
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